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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e biografia extraídos de http://sarauxyz.blogspot.com/

 

 

 

RICARDO S. REIS

 

 

Ricardo Sant’Anna Reis, professor de Ciências Sociais. Coordena e desenvolve projetos na área de capacitação profissional e educação. Tem militado nas "trincheiras clandestinas" da poesia contemporânea carioca, onde fez bons amigos. Considera um privilégio ser poeta num mundo cada vez mais prosaico e expurgado de espírito. O Diário da Imperfeita Natureza é o seu primeiro livro publicado, mas já possui outros prontos para a publicação.

 

 

POESIA DO BRASIL.  Vol. 5.  XV CONGRESSO BRASILEIR0 DE POESIA. Org. Ademir Antonio Bacca.  Bento Gonçalves: Proyecto Cultural Sur - Brasil, 2007.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

Linguística

 

A poesia é proverbial e de grande serventia

por explicar a afeição dotar de asas a rebeldia

aquilatar o que se vê dar valor ao que se cria.

O amor só se entende longe da monotonia

e o poeta tem por ofício recolher tais emoções.

Tanto que dos confins da terra vai ao céu

atrás de musas quietas em busca da parceria

das airadas marias sejam elas mulheres belas

sejam as feias ou as etéreas

e ainda aquela que tão linda por augusta passeia

num mafuá de província em roda no carrossel.

A mulher por mais que seja triste

mirrada ou pequena é musa

e tem o seu vate que a proclama em poema.

Ele andarilho vem da região do encanto

verter-lhe o sumo da vida trazendo o amor por dístico.

É por isto que a poesia de tudo que fala amplia

faz de um simples beijo um verso algo muito mais

do que corpo do que sexo do que lânguido

algo por assim dizer — linguístico.

 

 

 

Desistência

 

 

Que te vás, insônia, insistente concubina.

Não quero mais amar-te na madrugada interminável.

Preparo-me para dormir, no regaço da noite fria

dama de rara sorte, bela e benfazeja.
Eu já logrei distrair a morte e quero, agora,

                                           um devaneio
uma conversa de salão, do mundanismo burguês.
Quero a relva e a suave noite de estrelas
no céu da fazenda. Quero o meu peito aberto
e ser bem cuidado pelo apanágio de um amor
de mentira. Não quero a verdade.
Dá-me um cálice de losna, pois
quero, porque quero, o dormir profundo
um sono belo, no colo desta noite.

Eu sou mortal, já não sou mais de ferro.

 

 

 

      Sol pela janela

             

           Gato observa
o desdobrar da alma:
Tarde amena!

 

 

Brincante

 

mal terminada aquela chuva que há semanas

                                                   castigava

andou em cabriolas pelas calçadas das ruas
e a cada mocinha que encontrava
dizia que esta era a sua namorada,
tão ladino em constante gargalhada
que a cidade veio ver quem fazia a palhaçada
chapinhando poças d'agua nas esquinas
e dizendo tais gracejos as meninas,
veio de lá o prefeito veio o padre e o cachorro
do delegado ao notário os imortais da academia
que trouxeram o abecedário.
veio gente de todo lado e todos num amontoado
sem nexo com cara de espanto em vetusta multidão
boquiabertos perplexos ali adiante
o astro sol brincando brilhando
pulando as pocinhas do chão.

 

 

 

Luz e absinto 

Sinto que o dia revelou-se agora
no silencio, no ruído e na luz de tua presença.
O medo dos homens, de um naufrágio contíguo,
liga-se à precisão do barco no seguir
sempre adiante, em clarividência absintica.
Na hora crepuscular, torna-se nítida a angústia
desnudada da tua ausência, e ai formam-se
os contornos azuis nas montanhas,
emoldurando a noite brilhante.
Nesta hora da tarde, o dia já se sabe
a noite próxima, ainda que mística e distante.
Do mar, saltarão peixes pequenos ou grandes,
coriscos, delfins e sereias, que, como eternos
                                                                                                  diamantes,
cintilarão a lua em suas escamas de prata,
mas, não farão sombra para esta tua luz tamanha.

 

 

 

Ambrósia

 

Em arguta procura, diligente
e desperta, pus-me ao encalço
do elemento vigil, para descrever-te
melhor, amor, da forma certa.

 

Inicia-se à maneira dos poetas,
o tal relato: Por ali, ia, e, subitamente,
a trovoada trovejou, e no clarão,
tu te revelastes em todo fausto.

 

Eu, esfaimado de tua rica ambrósia,
tua beleza, parte prima do tempero.
Com devoção, eu provarei em afasia.

 

Tornou-me doce o prazer de existir,
vinho melífluo de sorver inebriado.
Sinais vitais, cá estou voltando a emitir.

 

Cozinha ibérica — poeta, mais que Emir.
No tacho de flandres, os condimentos a misturar.
O rosmaninho, a avelã e o alcaçuz... em tais sabores
eu me pus a te sentir.

 

Página ampliada em março de 2021

 

 

 

 

 

 

Página publicada em outubro de 2020


 

 

 
 
 
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